quinta-feira, 25 de março de 2010

Q dolor me agasta o peito?

A Fabi


Q dolor me agasta o peito?
Q rezão me leixa assi?
Olhade uós meo tromento:
Prouvelando só com mi!

Polo error uejo dereito,
Polo nô entendo si.
Q dolor me agasta o peito?
Q rezão me leixa assi?

Vou freguado, sẽ folgança,
Muy trogalha y tam subjeito
Ás avenças da mudança,
Xaminando ũa esperança.
Q dolor me agasta o peito?

***

Leixa = deixa
Prouvelando = falando muito e sem sentido
Freguado = atormentado
Folgança = felicidade
Trogalha = desajeitado
Xaminando = examinando

(Rodrigo Della Santina)

terça-feira, 23 de março de 2010

Aparentemente

É tudo fase, tudo uma efemeridade,
Eu sei, mas não consigo me cercar de exemplos
Que me convençam do valor de minha existência.
Parece que esqueci meu cisne... E a realidade
Faz mais feia a minha Musa. de tempos em tempos,
Ouço o lamento de Érato ecoar em minha cabeça

E mudar-me a existência do querer. Mas logo
A ausência faz valer o efêmero e se espraia
Pelo meu sentir. Resta agora que esse jogo
Se mantenha firme em seu olímpico globo.
Que oscile e tergiverse, sim, mas que não caia.

(Rodrigo Della Santina)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Sentimento platônico

Nunca pensei que todo mundo desejasse
A mesma coisa, embora me dissessem que
A felicidade fosse objeto de prazer.
E embora me dissessem, nunca cri tivesse

Um fundo de verdade, de coesão, no caso:
Minha visão tomava a frente e a insensatez
Era a função do ser. Acho que este não vê
O atemporal cuidado. Acho que vê-se atado

À condição opaca da existência e almeja
A perfeição da intelectualidade. Digo
O que digo por saber, por carregar comigo
O mesmo anseio, forte, essa ambição que nega

A própria origem. Mas se sei de minha essência,
É de supor que eu saiba, em meu querer, da ausência.

(Rodrigo Della Santina)